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Ulisses Horta Simões

A Reforma que eclodiu na Europa continental no século XVI ocasionou um “reavivamento” no esforço de se expressar formalmente, e com profundo lastro bíblico, a fé cristã apostólica. Assim, ocorreu um movimento similar ao dos dias dos credos da igreja, entre os séculos IV e V. Entretanto, os documentos confessionais se distinguiram dos credos históricos pela sua extensão, precisão e amplitude.

Nas primeiras décadas posteriores ao ato histórico de Lutero,  com a afixação das 95 Teses à porta da igreja do Castelo de Wittenberg (1517), vários documentos mais amplos surgiram: na Alemanha, a Confissão de Augsburgo (duas versões: 1530 e1540), entre outros documentos confessionais; na Suíça, surgiram 67 Artigos de Zuínglio (1523) e a primeira versão da Confissão Helvética, de Bullinger (1536), depois modificada (1561). Com a entrada em cena do reformador João Calvino (1509-1564), logo surgiram, na Europa, a Confissão Genebrina (1536) e o Catecismo Genebrino (1537,1542); numa segunda fase, surgiram a Confissão Escocesa (1560), a Confissão Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1563), a Segunda Confissão Helvética (1561,1566), e os Cânones de Dort (1619).

Os Países Baixos de então compreendiam territórios de modernas nações independentes: Bélgica, Holanda, Luxemburgo e pequenas partes da França. Entre parte da Alemanha e Países Baixos, o movimento que abraçou a Reforma produziu outros importantes documentos confessionais: a Confissão Neerlandesa (ou Belga, ou Valônica) e o Catecismo de Heidelberg.

A Confissão Belga, cuja versão inicial é de 1559, foi publicada em 1561, sob autoria do ministro Guido de Bres (1522-1567); de Bres fora aluno de Calvino e de Teodoro Beza (1519-1605) em Genebra. O texto teve influência da recém-lançada Confissão Gaulesa (ou Francesa), vindo a ser adotada pelo sínodo nacional ainda no século XVI. Um dos objetivos primários da confissão foi o de defender os cristãos protestantes da perseguição sofrida naqueles dias. O próprio Guido de Bres se tornou vítima fatal da perseguição. A confissão alcançou alta repercussão e tornou-se símbolo oficial de diversas denominações calvinistas sob a influência da reforma no solo holandês.

O Catecismo de Heidelberg foi elaborado em 1563, como fruto  de uma “encomenda” especial: o príncipe eleitor do Palatinado alemão Frederico III, que estava cada vez mais convencido da forma de fé calvinista, solicitou aos jovens teólogos Zacarias Ursinus (1534-1583) e Caspar Olevianus (1536-1587), professores da universidade, a elaboração do catecismo. Assim surgiu o mais difundido catecismo da reforma de fala alemã. Interessante observar que o texto foi concebido com claro interesse de uso litúrgico, dividido em 52 seções para corresponder aos 52 domingos do ano.

Quando a controvérsia arminiana surgiu em Leiden, Holanda, entre 1609 e 1610, a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg ficaram sob intensa prova de interpretações. Dois lados da controvérsia intensificaram seus debates, até que foi convocado o Sínodo Nacional de Dort, para dirimir a questão. Os seguidores de Tiago Armínio (1560-1609), chamados de remonstrantes, fizeram sua defesa, enquanto que os confessionais estritos, liderados por Francisco Gomaro (1563-1641) defendiam os “cinco pontos” doutrinários da soteriologia calvinista. O Sínodo, que teve lugar entre 13 de novembro de 1618 e 9 de maio de 1619, reafirmou a soteriologia da “TULIP”, redigiu e adotou os Cânones de Dort, e rechaçou a remonstrância arminiana.

A elaboração dos Cânones de Dort serviu, não apenas para forjar a compreensão bíblica sobre eleição, pecado, graça, expiação, salvação e soberania de Deus; também serviu para definir um molde hermenêutico sob o qual a igreja deveria interpretar estas  doutrinas na Confissão Belga e no Catecismo de Heidelberg.  O sínodo reafirmou oficialmente a adoção da Confissão Belga, do Catecismo de Heidelberg, ao tempo em que promulgou  os cânones. Isto significou atitude de promoção de unidade doutrinária na igreja, dando origem ao nome pelo qual os três documentos são conhecidos. Poucas décadas depois, os Cânones de Dort exerceram profunda influência na construção do texto da Confissão de Fé de Westminster.

*  Confissão Belga (1561)

*  Catecismo de Heidelberg (1563)

*  Os Cânones de Dort (1619)

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